sexta-feira, 28 de novembro de 2014

10ª Postagem: Em busca de um tratamento

Cirrose é um processo patológico irreversível que pode ser fatal. Portanto, é importante fazer o diagnóstico precoce para iniciar o mais depressa possível o tratamento que pode adiar ou evitar que surjam complicações mais graves. O único tratamento definitivo e eficaz para a cirrose hepática é o transplante de fígado, mas também pode haver melhoras se for possível suspender o agente agressor, no caso de álcool e drogas, ou combater o vírus da hepatite, que tenha originado a doença. E isso porque a capacidade regenerativa do fígado é muito grande: é possível ao órgão perder mais de dois terços da sua estrutura e a porção restante voltar a crescer até praticamente o tamanho normal. É algo semelhante ao que ocorre no transplante, em que o receptor recebe apenas uma porção do fígado do doador, que depois cresce. Como o transplante só está indicado em casos muito graves, nos outros casos deve-se tentar a detecção precoce e o tratamento das complicações, procedendo-se às intervenções necessárias.



Quanto à indicação, o transplante destina-se para o paciente portador de doença hepática aguda ou crônica em fase terminal. Existem algumas doenças nas quais as indicações são tranqüilas e aceitas de forma unânime. São aquelas que apresentam uma evolução conhecida, definida, e que têm pequena probabilidade de recidivar no fígado transplantado. As principais doenças com esse tipo de indicação são a cirrose biliar primária, a colangite esclerosante primária, a atresia de vias biliares, a hepatite crônica auto-imune e a insuficiência hepática aguda grave, também chamada de "hepatite fulminante". Evidentemente, em cada uma delas, existe um momento certo para o transplante, de forma a não indicá-lo muito precocemente, quando o paciente pode apresentar ainda mais alguns anos de vida produtiva, e também não indicá-lo muito tardiamente, quando as condições gerais do paciente estarão deterioradas e o resultado do procedimento não será tão satisfatório.
Vale lembrar que o transplante de fígado produz, com freqüência, rejeição. Discute-se a existência da rejeição chamada de superaguda, de natureza humoral. A rejeição chamada de celular aguda é verificada em 30% a 70% dos casos, especialmente nas primeiras duas semanas após o transplante, mas pode ocorrer em qualquer época após o procedimento. Há, ainda, a chamada rejeição crônica, provavelmente de natureza humoral. A grande dificuldade é manusear adequadamente os diversos esquemas conhecidos de imunossupressão para evitar as rejeições. Há padronizações, porém, que estão longe de acompanhar aquelas do ato operatório. A imunossupressão medicamentosa é obrigatória em todos os casos, mesmo naqueles em que já estão com a imunidade gravemente comprometida pela doença hepática. Aqui reside toda a dificuldade. A imunossupressão medicamentosa não pode ser excessiva a ponto de produzir infecções, nem ser leve o suficiente para permitir rejeições que, por sua vez, obriguem à utilização de drogas mais potentes. Esse equilíbrio é difícil de ser encontrado, pois são diferentes os pacientes, a idade, a condição clínica, a doença hepática, etc. Além disso, as drogas utilizadas são altamente tóxicas e produzem efeitos indesejáveis de monta em praticamente todos os casos.



De qualquer modo, o melhor a fazer para não desenvolver cirrose hepática é sempre evitar os fatores que podem desencadeá-la como: evitar o uso abusivo de álcool, usar preservativo nas relações sexuais e seringas descartáveis para evitar a contaminação pelos vírus das hepatites B e C, não descuide do tratamento para as hepatites B e C crônicas a fim de que não provoquem cirrose, procure vacinar-se contra hepatite B para evitar o risco de contrair essa doença. Principalmente se você tiver algum fator de risco como algumas doenças genéticas (por exemplo, Doença de Wilson), hepatite auto-imune ou cirrose biliar primária.
Com isso a gente encerra aqui o nosso blog, espero que ele tenha ajudado você a compreender melhor melhor o cotidiano de muitos brasileiros que tentam lidar com a doença. Meu objetivo não foi só trazer conhecimento técnico aos profissionais de saúde a cerca da cirrose, mas também fazê-los refletir sobre a necessidade de fazer um atendimento humanizado a esse tipo de paciente, que já se encontram bastante fragilizados e que não tem um chance de cura ceta. Espero ter atingido esse objetivo. Até próximo período!

Referência:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301998000200011%27%27&script=sci_arttext
drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/alcoolismo/cirrose/
http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/363564/cirrose+hepatica+definicao+causas+sintomas+diagnostico+tratamento+e+evolucao.htm

7 comentários:

  1. Além do tratamento da doença de base, o portador de cirrose pode apresentar diversas complicações comuns que devem ser investigadas e tratadas adequadamente, entre elas a hemorragia por varizes esofágicas, a ascite (e peritonite bacteriana espontânea), a desnutrição, a encefalopatia hepática e o hepatocarcinoma. Diversos tratamento já foram tentados para reverter especificamente o grau de fibrose na cirrose, mas nenhum com real eficácia até o momento. Atualmente, o campo mais promissor é o estudo das células esteladas do fígado, que estão envolvidas no processo de cicatrização e que poderiam reverter as mesmas. Estudos também estão sendo realizados para o uso de células-tronco, que poderiam se diferenciar em hepatócitos e melhorar o funcionamento do fígado, mas os resultados ainda não são animadores e este tipo de tratamento não é realizado fora de pesquisas.

    Fonte: http://www.hepcentro.com.br/cirrose.htm

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  2. Já que foi falado sobre transplante de fígado, importante informar que O primeiro transplante de fígado foi realizado em 1963, na cidade de Denver, nos Estados Unidos, pelo Dr. Thomas Starzl numa criança de três anos, que morreu durante o procedimento cirúrgico. Nesse mesmo ano, Dr. Starzl realizou outros dois transplantes de fígado, mas a sobrevida dos pacientes foi curta. Em 1967, ele repetiu esse tipo de cirurgia no primeiro paciente que sobreviveu por período mais longo e teve como causa mortis as metástases de um câncer anterior ao transplante. Na América Latina, o primeiro transplante de fígado foi realizado com sucesso no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo pela equipe do Dr. Marcel Cerqueira César Machado, em 1968. Desde então, a técnica vem sendo desenvolvida e o número de transplantados aumenta a cada ano. Segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), a taxa de sobrevida nesses casos, que era de 30% nos anos 1970, passou a 90% no final da década de 1980. Sobre o pós operatório desse transplante, Tudo depende das condições do receptor antes do transplante e da qualidade do órgão transplantado. Se o receptor se encontra em condições clínicas favoráveis, sob o ponto de vista nutricional e da doença hepática de base, suporta melhor a cirurgia. Se o órgão veio de um doador considerado ideal, a recuperação do doente é rápida. No primeiro dia depois do transplante, ele fica na UTI e já, no dia seguinte, começa a alimentar-se. Se o fígado veio de um doador não ideal, se a cirurgia foi mais complexa porque o doente já havia sido operado anteriormente e apresentava aderências de tecidos ou doença hepática em estágio mais avançado, por exemplo, as complicações são mais frequentes. Quanto ao funcionamento do órgão transplantado, o tempo independe do tipo de transplante (de cadáver ou intervivos). No entanto, quanto maior for a demora para o órgão transplantado começar a funcionar, mais prolongado será o período de internação na UTI e mais arrastada a recuperação.

    http://drauziovarella.com.br/clinica-geral/transplante-de-figado/

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  3. É triste dizer que o melhor tratamento para a cirrose hepática é o transplante. Infelizmente, no Brasil, temos apesar do grande número de transplantes uma fila muito grande. E como não ha máquina que faca o papel do figado, esses pacientes não esperam muito. A mortalidade é grande na lista de espera. Segundo cálculos estabelecidos por entidades ligadas a candidatos a transplante, pode chegar a 40%, 50%. No Brasil, entretanto, existe a possibilidade de aumentar o número de doadores, porque é subutilizado muitos deles. Isso acontece por causa da subnotificação de possíveis doadores. Embora exista uma lei que obrigue a instituição de saúde a comunicar à central de transplante os casos de morte encefálica, isso não é feito.
    fonte: http://drauziovarella.com.br/clinica-geral/transplante-de-figado/

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  4. Como dito pelo João Marcos, a espera por órgãos é, e sempre foi, um grande problema. No Brasil, em 1997, foi votada uma lei que criou a lista única de receptores para cada centro, determinando um critério cronológico de atendimento, conforme a seqüência de inscrição na lista. Em São Paulo, a lista inclui cerca de 3.000 pacientes com elevada mortalidade durante a espera, visto que o transplante é realizado somente cerca de 4 anos após a inscrição. No Brasil, em 1997, votou-se uma lei criando a lista única de receptores para cada centro, e determinando um critério cronológico de atendimento, conforme a seqüência de inscrição na lista. Em São Paulo, a lista inclui cerca de 3.000 pacientes com elevada mortalidade durante a espera, visto que o transplante é realizado somente cerca de 4 anos após a inscrição. A partir da década de 90, como dito pela Amanda, iniciou-se a prática dos transplantes intervivo. O enxerto usado é o lobo direito (50/60% do órgão), cuja retirada do doador implica num risco maior, com mortalidade estimada ao redor de 2%. Porém , como esse tipo transplante contorna a lista de espera, já citada aqui como um grande problema, sua aceitação tem sido muito grande também em países que usam enxerto de cadáver. Já são referidos mais de 4.000 casos operados em 30 centros nos EUA, 15 na Ásia e 5 na Europa. Vale ressaltar, ainda, que a dependência de uma doação voluntária cria cenários inéditos, do ponto de vista ético, que devem ser amplamente discutidos. É necessário preservar a autonomia do doador, que é submetido à pressões emocionais inevitáveis, uma vez que de sua decisão depende a vida de um ente querido. O médico também enfrente um dilema ético, pois deve pensar em um fato ético, que proíbe-o de causar dano a qualquer um dos seus pacientes, mas também em outro, que garante a todo ser humano o respeito ao seu direito de autonomia. É, com certeza, um tema bastante polêmico e que merece discussões profundas.
    Referência: http://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/transplante-de-figado-com-doador-vivo

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  5. Cabe citar que vários estudos citam o papel da terapia celular na regeneração de um fígado cirrótico. Pesquisadores da Universidade de Cambridge (Inglaterra) pegaram amostras da pele de sete pacientes que padeciam de doenças hepáticas hereditárias, assim como de três pacientes saudáveis, "reprogramando" as amostras da pele com células-tronco que podem virar qualquer tecido do corpo. Por primeira vez, as células foram utilizadas para imitar enfermidades hepáticas. Ao reproduzir as células do órgão afetado, os pesquisadores podem não apenas determinar o que afeta a célula como também provar a eficácia de novos tratamentos para a cirrose. Assim, a esperança é que esta técnica genética derive em tratamentos específicos e personalizados, semelhante terapia celular deveria igualmente permitir, uma vez que as células doentes sejam curadas, que sejam transplantadas para o fígado do paciente. No Brasil, também foi feita uma experiência parecida, mas foram utilizados células tronco obtidas do broto hepático de embriões de ratos com 12 dias e meio de gestação, e o resultado foram a diminuição do tempo de regeneração do fígado, o que poderá no futuro ajudar a procurar tratamento celulares efetivos contra a cirrose.
    Fonte: http://agencia.fapesp.br/terapia_celular_reduz_tempo_de_regeneracao_do_figado/16504/

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  6. Devido a complexidade que é o tratamento da cirrose hepática, que normalmente só é resolvido com o transplante em que se encontra problemas desde a longa espera por um doador até a rejeição do órgão após o transplante, faz-se necessário que as pessoas cuidem desse órgão vital com condutas que evitem o seu comprometimento. Pode ser consequência de vários factores etiológicos, nomeadamente álcool, infecções víricas, doenças metabólicas, processos auto- munes ou patologia da via biliar. O álcool foi cronologicamente o primeiro fator a ser associado ao desenvolvimento da doença e a sua responsabilidade na causalidade da cirrose hepática, a mais exaustivamente estudada. A relação entre consumos elevados (160 gramas/dia) e prolongados (8 anos) de álcool
    e cirrose hepática foi já bem documentada, mas a verdade é que existem dados que mostram um aumento do risco relativo de cirrose hepática desde valores tão baixos como 10 gramas/dia nas mulheres e 20 gramas/dia nos homens. Assim, é importante perceber que a relação entre álcool e cirrose hepática está ligada a duração e magnitude da ingestão de álcool.

    Fonte: http://www.fcsaude.ubi.pt/thesis2/anexo.php?id=128b77aa341de51f

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  7. É fato que a forma mais simples de se evitar a cirrose seria não beber ou beber "moderadamente". Mas o que seria , na realidade, o moderado? Quantidade ingerida de etanol e duração da ingestão - Não há consenso entre os autores quanto a este item. Alguns afirmam que há riscos para a formação de DHA quando o consumo de etanol excede 80g ao dia, enquanto outros mencionam que há necessidade de ingestão diária de, pelo menos, 160 g para induzir hepatite ou cirrose. Alguns autores consideram que doses bem menores, ou seja, 40 g/dia para homens e 20 g/dia para mulheres constituem fatores de risco. Outros avaliam o risco pela quantidade ingerida durante a semana, isto é, 210 g/semana para homem e de 140 g/semana para a mulher. A média de consumo de álcool pode também ser calculada pelo número de unidades por semana (1 unidade = 1 copo de vinho ou 270 ml de cerveja). Uma unidade contém 7g de álcool. Segundo esse critério o risco relativo para desenvolvimento de cirrose em consumidores de 28 até 41 unidades de álcool por semana (durante 12 anos) é de 3% para o sexo masculino e de 4% para o feminino. Outros estudos ressaltam que alcoolistas têm chance de 20% a 30% durante toda a vida para desenvolver cirrose. A continuidade (consumo diário e não apenas em fins de semana) favorece a formação e a progressão da DHA, pois dificulta a regeneração.
    Assim, o ideal é evitar o álcool, e seus muitos malefícios, uma vez que não existe quantidade segura.

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