sábado, 18 de outubro de 2014

4ª Postagem: Testes para avaliação de lesão hepatocelular e suas implicações

O termo "função hepática" geralmente é utilizado erroneamente na prática clínica para descrever uma gama de exames laboratoriais que não investigam apenas a função do fígado, mas também a presença de lesão hepatocelular e de vias biliares. Costuma incluir AST, ALT, fosfatase alcalina, GGT, albumina, bilirrubinas total e frações e atividade da protrombina. Há, no entanto, uma grande variedade de exames laboratoriais disponíveis comercialmente que apresentam como finalidade avaliar paciente com suspeita de doença hepática ou investigar sua causa. Os exames podem ser classificados de modo didático em:
Testes para avaliação de lesão hepatocelular (destruição de hepatócitos);
Testes para avaliação do fluxo biliar e lesão de vias biliares;
Testes para avaliação da função de síntese do fígado;
Testes para avaliação de complicações e estágio da cirrose;
Testes para investigação da etiologia (causa) da doença hepática.
A maioria das doenças hepáticas causam somente leves sintomas inicialmente, então estes testes são vitais para que estas doenças sejam detectadas precocemente. O envolvimento do fígado em algumas doenças pode ser de importância crucial. Estes testes são realizados através de amostra obtida do sangue do paciente. Nessa postagem falaremos mais especificamente dos testes para avaliação de lesão hepatocelular. 
Testes para avaliação de lesão hepatocelular
  1. Aminotransferase

    • Aspartato aminotransferase (AST)

Também pode ser chamada de transaminase glutâmico oxaloacética (TGO). É uma enzima que catalisa a reação: aspartato + alfa-queroglutarato = oxaloacetato + glutamato. Encontrada em altas concentrações no citoplasma e nas mitocôndrias do fígado, músculos esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos (glóbulos vermelhos do sangue). Quando qualquer um desses tecidos é lesado, a AST é liberada no sangue como não há um método laboratorial para saber qual a origem da AST encontrada no sangue, o diagnóstico da causa do seu aumento deve levar em consideração a possibilidade de lesão em qualquer um dos órgãos onde é encontrada. Seus valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 37 U/L (homens).



  • Alanina aminotransferase (ALT)
Também pode ser chamada de transaminase glutâmico pirúvica (TGP). É uma enzima que catalisa a reação: alanina + alfa-queroglutarato = piruvato + glutamato. É encontrada em altas concentrações apenas no citoplasma do fígado, o que torna o seu aumento mais específico de lesão hepática. Seus valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 41 U/L (homens).




Microscopia eletrônica de hepatócito. As mitocôndrias (M) são organelas responsáveis principalmente pela produção de energia nas células. O citoplasma é o espaço da célula entre o núcleo (essa estrutura circular que ocupa grande parte da figura) e a membrana celular, que reveste a célula. É preenchido por uma matéria semi-fluida denominada hialoplasma aonde estão suspensas as organelas da célula.

  • Relação AST/ALT
Além das características individuais, a relação entre o aumento das enzimas tem valor diagnóstico tanto a AST quanto a ALT costumam subir e descer quase na mesma proporção em doenças hepáticas. Elevações pequenas de ambas, ou apenas de ALT em pequena proporção, são encontradas na hepatite crônica (especialmente hepatite C e esteato-hepatite não alcoólica). Como na hepatite alcoólica há maior lesão mitocondrial, proporcionalmente, do que nas outras hepatopatias, observa-se tipicamente elevação mais acentuada (o dobro ou mais) de AST (que é encontrada nas mitocôndrias) do que de ALT, ambas geralmente abaixo de 300 U/L. Elevações de ambas acima de 1.000 U/L são observadas em hepatites agudas virais ou por drogas

Causas de aumento de aminotransferases no sangue
Doenças hepatobiliares
Doenças do miocárdio
Doença pancreática
Doença muscular
Álcool
Ligação a imunoglobulina (rara)
Doença não-hepatobiliar com envolvimento hepático obesidade / diabetes
  -hemocromatose
deficiência de alfa-1-antitripsina
  -infecção pelo HIV
hipertireoidismo
  -doença celíaca
  • Desidrogenase lática (DHL)
É observado em lesões hepatocelulares, de modo geral, pode ser útil na diferenciação entre hepatite aguda viral e lesão causada por isquemia ou paracetamol; sugere-se que, em elevações de aminotransferases acima de 5 vezes o limite superior, uma relação ALT/DHL maior que 1,5 sugere hepatite viral. Valores normais: 24-480 U/L

Referências:
http://www.hepcentro.com.br/exames.htm
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAASNAAA/enzimas-hepaticas

8 comentários:

  1. Estas enzimas são liberadas no sangue em grandes quantidades quando há dano à membrana do hepatócito, resultando em aumento da permeabilidade. A necrose em si não é necessária, e há baixa correlação entre o grau de lesão hepatocelular e o nível das aminotransferases. Assim, a elevação absoluta das aminotransferases tem grande significado diagnóstico, e não prognóstico, nas hepatopatias agudas. A relação AST/ALT pode ser um auxilio ao diagnóstico diferencial das hepatopatias. Elevações são encontradas na hepatite crônica (principalmente hepatite C e esteato-hepatite não alcoolica. Interessante ressaltar que como na hepatite alcoolica há maior lesão mitocondrial, observa-se elevação mais acentuada de AST do que de ALT, ambas geralmente abaixo de 300U/L. Importante diferenciar, pois elevações acima de 1000U/L são características de hepatites virais agudas ou ou de drogas.
    http://www.blogbiotecnica.ind.br/blog/2011/05/avaliacao-enzimatica-da-lesao-hepatica/

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  2. Como a postagens aborda as lesões hepatocelulares, acho interessante relacioná-las com o uso de fármacos, tão presentes no nosso dia-a-dia. Os mecanismos pelos quais medicações podem causar danos ao fígado são variados e, para estabelecer o diagnóstico, é necessário levantar a suspeita clínica sempre que houver exposição a drogas hepatotóxicas, acompanhada de lesão ao fígado, e for observada melhora do quadro com a suspensão da droga depois que foram excluídas outras causas de lesão hepática - como hepatites virais, alcoólicas e autoimunes. A lesão hepática induzida por drogas é responsável por 30% dos casos de hepatite aguda e por mais de 50% dos de icterícias agudas. A classificação da lesão hepática relacionada às drogas é estabelecida de acordo com a apresentação clínica, os achados laboratoriais e histológicos e também pelo mecanismo de toxicidade.

    Fonte: http://www.revistapesquisamedica.com.br/portal/textos.asp?codigo=11834

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  3. O fígado oferece suporte para quase todos os órgãos do corpo e é vital para a sobrevivência. Devido à sua localização e multidimensionais funções estratégicas, o fígado também é propenso a muitas doenças.

    As mais comuns incluem: infecções, tais como hepatite A, B, C, D, E, danos por uso de álcool, fígado gordo, cirrose, câncer, danos de drogas, em particular por acetaminofeno (paracetamol) e medicamentos contra o câncer.

    Muitas doenças do fígado são acompanhados por icterícia causados ​​pelo aumento dos níveis de bilirrubina no sistema. Os resultados de bilirrubina a partir da cisão da hemoglobina dos glóbulos vermelhos mortos. Normalmente, o fígado remove bilirrubina a partir do sangue e excreta através da bile.

    Há também muitas doenças pediátricas do fígado incluindo atresia biliar, alfa-1-antitripsina, síndrome de Alagille, colestase intra-hepática familiar progressiva, e células de Langerhans, para citar apenas alguns.

    Doenças que interferem com a função hepática irão levar a perturbação destes processos. No entanto, o fígado tem uma grande capacidade de se regenerar e tem uma grande capacidade de reserva. Na maioria dos casos, o fígado produz apenas sintomas após extensos danos.

    Doenças do fígado podem ser diagnosticada por testes da função hepática, por exemplo, pela produção de proteínas de fase aguda.

    Referências:
    http://digestive.niddk.nih.gov/ddiseases/pubs/cirrhosis/
    http://www.nhs.uk/Conditions/liver-disease/Pages/Introduction.aspx

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  4. Como foi frisado na postagem, as diversas doenças hepáticas são silenciosas no início, por isso a importância de métodos que permitam um diagnóstico prematura da doença. Mas, cabe aqui citar que os testes em laboratório são uteis na distinção do padrão da lesão, se ela é hepática ou colestásica; também permitem avaliar a cronicidade da lesão, aguda ou crônica; e a gravidade da lesão, se é branda ou acentuada. Em geral, pode-se dizer que as enzimas aminotranferase e as fosfatases alcalinas são usadas para distinguir o padrão, a albumina plasmática para determinar a cronicidade e a concentração; a do fator V ou do TP, para determinar a gravidade. E para detectar fibrose, atualmente, só existe a biopsia.
    Referências: Burtis, C., Ashwood, E., Bruns, D. Tietz Fundamentos da Química Clínica, 5.ed. Elsevier (Halbourn, 2007)

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  5. Assim como explicado na postagem, a lesão hepatocelular apresenta leves sintomas no início, sendo necessário a realização dos exames citados na postagem para que o diagnóstico precoce seja feito. Por isso, pessoas que apresentam hábitos de vida correspondentes aos fatores de risco devem continuamente fazer esse monitoramento para que seja detectado precocemente qualquer problema. Alguns fatores de risco são: câncer primário do fígado, Hepatites crônicas B e C, colangeocarcinoma, dentre outros.

    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-28032000000100012&script=sci_arttext

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  6. A AST e a ALT podem ser consideradas marcadores temporais, já que sofrem alteração(aumento) ao longo de um processo biológico, no caso, a lesão hepatocelular. Essas enzimas também são usadas como marcadores temporais em Infartos Agudos do Miocárdio, por exemplo. Como o tema do blog é a vida do paciente cirrótico e a postagem cita os testes para avaliação de complicações e estágio da cirrose, falarei um pouco sobre um dos testes utilizados pra isso: a Classificação de Child-Pugh, que é uma tentativa de agrupar em uma única classificação alguns dos fatores que seriam mais significativos no paciente com cirrose para prever o risco de submeter esses pacientes a um tratamento cirúrgico. Essa classificação é usadada na prática hepatológica como uma forma de separar, grosseiramente, ainda que de modo grosseiro, o paciente cirrótico em três estágios (A, B e C), com grau crescente de complicações da cirrose. Essa classificação, porém, não é capaz de estimar a expectativa de vida de maneira precisa, se avaliada individualmente. Logo, busca-se utilizar a classificação de MELD/PELD em detrimento da de Child-Pugh. O MELD é calculado a partir de 3 parâmetros: bilirrubina, creatinina e RNI.

    Referências: http://www.hepcentro.com.br/exames.htm
    http://www.adote.org.br/oque_meldpeld.htm

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  7. Além dos explicados na postagem (somente os relacionados aos testes de avaliação de lesão hepatocelular) existem uma grande gama de enzimas utilizadas nas mais diversas avaliações. Entre elas podemos citar: Fosfatase alcalina, que na verdade se trata de uma família de enzimas e é utilizada na avaliação do fluxo biliar e lesão de vias biliares, a albumina, que é a principal proteína circulante no corpo humano e pode ser usada para avaliar a função de síntese do fígado, entre muitos outros.

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  8. O exame de níveis de bilirrubina, falado no texto, serve como um indicador amplo. A bilirrubina é gerada pela quebra da porção heme da hemoglobina. Ela é nascente na forma indireta, lipossolúvel, e no hepatócito, é conjugada e excretada pela bili, na forma hidrossolúvel. quando temos aumento da bilirrubina indireta, podemos pensar em hemolise excessiva ou que o figado não estão conjugando a bilirrubina, quadro característico de cirrose hepática, por exemplo. Se temos aumento da bilirrubina direta, conjugada, sabe-se que o figado está conjugando a Bl, mas não está conseguindo excreta-la através dos canais biliares, indicando uma obstrução nesses canais, por inflamações ou tumores.

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