quarta-feira, 29 de outubro de 2014

5ª Postagem: Encefalopatia Hepática

A encefalopatia hepática ou porto-sistêmica é uma síndrome clínica muito comum em portadores de doença hepática crônica, acometendo de 50% a 70% dos cirróticos no curso da sua doença. Trata-se de uma manifestação de doenças no fígado, aonde há um excesso de produtos tóxicos provenientes da alimentação e do próprio fígado, que deveria eliminá-las. A encefalopatia surge quando o fígado torna-se incapaz de eliminar ou transformar esses tóxicos em virtude da destruição das suas células e/ou porque o sangue que vem do sistema digestivo é desviado do seu caminho normal e vai direto para a circulação geral (incluindo a do cérebro) sem passar pelo fígado antes.

FISIOPATOGENIA

Não há uma explicação clara para o surgimento da encefalopatia hepática. A maioria das teorias baseia-se na comprovação de que a concentração de amônia no sangue está aumentada nos cirróticos, especialmente naqueles com encefalopatia. A amônia é produzida principalmente no intestino e deveria ser transformada em uréia (ou glutamina, a partir de glutamato) pelo fígado e eliminada pelas fezes e urina. Essa amônia em excesso, no cérebro, afeta os neurotransmissores e portanto o funcionamento cerebral. Os efeitos da amônia no cérebro incluem a redução nos potenciais pós-sinápticos, aumento na captação de triptofano (cujos metabólitos, entre eles a serotonina, são neuroativos), redução no ATP com perda de energia e o aumento da osmolaridade intracelular dos astrócitos (pela formação de glutamina), que leva ao seu inchaço e vasodilatação cerebral.
Diversas outras teorias ajudam a explicar a encefalopatia hepática, pois a concentração de amônia no sangue, apesar de aumentada na encefalopatia, não está diretamente relacionada ao grau da doença. Excesso de mercaptanos, manganês e de ácidos graxos de cadeia curta, desequilíbro entre aminoácidos aromáticos e não aromáticos, são outras explicações para a doença.

SINTOMAS

A grande maioria dos cirróticos portadores de encefalopatia hepática não apresenta nenhuma queixa. Há apenas uma discreta lentificação e redução da atenção, que podem ser detectados com exames específicos. Esse é considerado o estágio subclínico da doença e pode afetar de 1/3 a 2/3 dos cirróticos. A importância desse estágio é controversa, mas há evidências de que nessa fase há um risco aumentado de acidentes, especialmente automobilísticos.
Com a progressão da doença, há graus progressivos de encefalopatia, que pode cursar com alterações no comportamento social (palavras inapropriadas, agitação, agressividade, comportamento bizarro), mudança no ciclo sono-vigília (sono de dia, insônia à noite), fala arrastada, sonolência e, por fim, coma. Geralmente há alguns sinais durante esse processo, como tremores e um hálito adocicado característico.

Estágios da Encefalopatia Hepática - Critérios de West Haven
Estágio
Consciência
Intelecto e Comportamento
Achados Neurológicos
0
Normal
Normal
Exame normal; testes psicomotores prejudicados
1
Leve perda de atenção
Redução na atenção; adição e subtração prejudicadas
Tremor ou flapping leve
2
Letárgico
Desorientado; comportamento inadequado
Flapping evidente; fala arrastada
3
Sonolento mas responsivo
Desorientação severa; comportamento bizarro
Rigidez muscular e clonus; hiperreflexia
4
Coma
Coma
Postura de descerebração

A encefalopatia hepática, no entanto, não costuma aparecer na forma de uma piora progressiva, contínua e irreversível. Ela pode aparecer subitamente na hepatite fulminante (com melhora completa se houver cura) ou com períodos de melhora e piora, característicos na cirrose. No cirrótico, a encefalopatia vai se manifestar como surtos de piora quando houver uma causa desencadeante e melhorar quando essa causa passar ou for tratada.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de encefalopatia hepática é geralmente de exclusão, devendo-se atentar para a presença de sinais e sintomas que sugiram outra etiologia para alteração no nível de consciência, como déficits focais, alteração em pares cranianos ou irritação meníngea. Fatores predisponentes também auxiliam na suspeita diagnóstica e incluem: o aumento da produção de amônia ou da difusão de amônia pela barreira hemato-encefálica (por uremia, hemorragia digestiva, infecção, entre outras), o comprometimento da perfusão hepática (por hipovolemia, paracentese), drogas depressoras do sistema nervoso (benzodiazepínicos, opióides), "shunt" porto-sistêmico (TIPS, cirúrgico) e diminuição da reserva funcional hepática (progressão da hepatopatia, hepatocarcinoma).

Referência:
http://www.hepcentro.com.br/encefalopatia_hepatica.htm
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302004000200012


9 comentários:

  1. Acho importante, sempre que falamos de patologias como essas, olhar para a situação dela no lugar em que vivemos. No Brasil, poucos estudos existem no sentido de determinar a prevalência de encefalopatia hepática em pacientes com cirrose hepática e também pouco se conhece sobre os fatores envolvidos em sua gênese, tais como o sexo, a idade, a raça, a gravidade da cirrose hepática, suas diferentes causas, entre outras variáveis. Embora a amônia seja a principal substância envolvida na fisiopatologia dessa doença, pouco se conhece sobre o seu papel no diagnóstico da encefalopatia hepática. Além do mais, frequentemente lida-se com indivíduos com baixa escolaridade, o que poderia ser problema para o diagnóstico desta entidade, desde que alguns testes neuropsicológicos podem ser influenciados por esta variável. A utilização de testes neurofisiológicos mais sofisticados, que poderiam minimizar a interferência da escolaridade sobre os resultados dos exames, como o P300, ainda é bastante limitada pela relativa indisponibilidade deste método em diversos serviços de hepatologia.

    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28032009000100013&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

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  2. Essa influência no cérebro do mal funcionamento do fígado, exposto no post, se deve pelo fato de o fígado ser o "processador" de tudo que ingerimos e se ele não funciona corretamente, os nutrientes e os metabólitos do metabolismo dele não chegarão da forma adequada para o resto do organismo. No entanto, deve-se destacar os tipos de encefalopatia, que pode ser do tipo A, B ou C. O primeiro tipo é decorrente da falência hepática aguda; o segundo ocorre com encefalopatia associada a bypass porto-sistêmico; e o terceiro tipo ocorre quando é associada a cirrose e hipertensão portal.

    Fonte: http://www.tuasaude.com/encefalopatia-hepatica/

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  3. A encefalopatia hepática nem sempre acontece em quadros súbitos, podendo ser prevista ou quantificada em um estágio inicial. Nas últimas décadas vem sendo descrita a entidade denominada encefalopatia hepática mínima (EHM). O termo se aplica àqueles pacientes com insuficiência hepática e/ou hipertensão portal (assunto de outra postagem desse blog) que não apresentam alterações neuropsiquiátricas perceptíveis ao exame clínico, mas que manifestam alterações detectáveis em testes neuropsicológicos e/ou neurofisiológicos apropriados. A EHM é, portanto, uma condição não percebida quando do exame clínico e, durante vários anos, sua presença foi considerada, por este motivo, irrelevante. Entretanto, estudos clínicos demonstram que cirróticos com EHM apresentam pior qualidade de vida, prejuízo da memória e da atenção e dificuldade para realizar atividades cotidianas simples como, por exemplo, dirigir veículos automotivos (o que pode gerar riscos para a sociedade e para o indivíduo que tem a condição mas não a conhece). Da mesma forma, a EHM vem sendo considerada estágio pré-clínico da EH, desde que sua evolução para EH clinicamente manifesta se faz em cerca de 50% dos casos em curtos períodos de seguimento.
    fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/encefalopatia-hepatica
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28032009000100013

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  4. Acho importante abordar também as formas de tratamento da encefalopatia hepática. Inicialmente, vale ressaltar que os objetivos desse tratamento são identificar e remover os fatores precipitantes, reduzir o nitrogênio intestinal e avaliar a necessidade de terapia de longa duração, isto é, formas de prevenção de fatores precipitantes (dieta; profilaxia para sangramento de varizes esofágicas; profilaxia para peritonite bacteriana espontânea; uso correto de diuréticos; evitar drogas vasoativas), tratamento profilático em indivíduos de maior risco (como os submetidos a TIPS) e avaliação da indicação de transplante hepático. Atualmente, existem 4 opções de tratamento: manipulação da circulação esplâncnica, drogas que afetam a neurotransmissão, redução do nitrogênio intestinal e terapia nutricional. No caso da terapia nutricional, pacientes cirróticos devem ter uma dieta limitada em proteínas (geralmente 1,2 g/k/dia); há evidência de que a complementação de zinco seja benéfica, especialmente em cirróticos desnutridos.
    Referência: http://www.hepcentro.com.br/encefalopatia_hepatica.htm

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  5. A forma mais suave de encefalopatia hepática é difícil de detectar clinicamente, mas pode ser demonstrada em testes neuropsicológicos. Ela é experimentada como esquecimento, confusão leve e irritabilidade. A primeira etapa da encefalopatia hepática é caracterizada por um padrão de sono-vigília invertido (dormir durante o dia, estar acordado durante a noite). A segunda fase é marcada por letargia e alterações de personalidade. A terceira fase é marcada por confusão piorada. A quarta etapa é marcada por uma progressão até ao coma.

    Fonte: http://qjmed.oxfordjournals.org/content/103/1/9

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  6. A encefalopatia hepática é causada por distúrbios que afetam o fígado. Entre eles os que reduzem a função hepática (como cirrose ou hepatite) e doenças nas quais a circulação sanguínea não penetra no fígado. Apesar de ser fortemente relacionada à hepatite, a encefalopatia hepática pode ocorrer de repente em pessoas que não tinham problemas no fígado antes, quando o fígado é lesionado, decorrido na maioria das vezes de acidentes e levando o fígado a não funcionar "corretamente" ou a não funcionar de forma alguma.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Interessante abordar que a dieta para encefalopatia hepática deve ser normocalórica, ou seja deve ter calorias que supram normalmente os seu gastos energéticos. Um dos objetivos da dieta na cirrose ou doença hepática, para tratar a encefalopatia hepática é impedir ou reverter quadros de desnutrição, e por isso um lanche durante a noite pode ser introduzido para melhorar o peso e o estado geral do paciente. A dieta com restrição proteica e aminoácidos ramificados para tratar a encefalopatia hepática deve ser seguida apenas durante o período de 3 a 5 ou enquanto existir manifestações clínicas e sintomas como lentificação dos pensamentos, tremores e distúrbios comportamentais. Na encefalopatia hepática é importante evitar jejum via oral (com exceção dos casos de hemorragia digestiva ou outro impedimento mecânico) e fazer uma ​restrição proteica por tempo limitado (3 a 5 dias) nos casos de encefalopatia hepática grave porque um dos principais objetivos do tratamento é evitar a perda de peso e de proteínas do corpo visceraise musculares.

    http://www.tuasaude.com/tratamento-para-encefalopatia-hepatica/

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  9. Acho que é importante ressaltar como se faz o diagnóstico de encefalopatia hepática. O diagnóstico de encefalopatia hepática é eminentemente clínico. As manifestações não são específicas; alteração de nível de consciência, asterix, hálito hepático e outros sintomas neuropsiquiátricos podem estar presentes em uma série de outras patologias que devem ser excluídas. Antecedentes de cirrose hepática e encefalopatia hepática prévia ou a presença de um evento precipitante óbvio, geralmente contribuem para o diagnóstico, porém, mesmo em hepatopatas, a alteração de nível de consciência pode estar relacionada a outras patologias como eventos vasculares cerebrais ou infecção no sistema nervoso central. Portanto, o diagnóstico de encefalopatia hepática é geralmente de exclusão.
    Fonte: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v50n2/20758.pdf

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